sábado, 13 de junho de 2020

Vou te falar sobre meus fantasmas e como me tornei a pessoa complicada que sou. Minha mãe namorou meu pai durante uns 3 anos, meu pai sempre foi irresponsável e provavelmente teve filhos antes mesmo de ter engravidado minha mãe, eles tinham 19 anos quando eu nasci. O relacionamento não deu certo, minha mãe sofreu porque minha avó era preconceituosa com mãe solteira, mas ao menos fui registrado no nome do meu pai e evitei alguns constrangimentos que teriam me abalado ainda mais durante minha infância e adolescência. Minha mãe cometeu um deslize que acabou resultando no meu nascimento, sofreu preconceito, mas também foi irresponsável. Eu tinha oito meses de vida e ela engravidou novamente, desta vez do atual marido dela. Minha avó que já estava puta, ficou com ainda mais raiva e deu para minha mãe uma escolha, ela poderia se casar com o pai do meu irmão e ir morar com ele e me deixar com ela ou poderia me se casar e levar os dois filhos, só não poderia ficar na casa dela com duas crianças sendo mãe solteira. Sim, minha avó foi cruel e sim, minha mãe foi completamente irresponsável. Eu fiquei com minha avó, porque meu padrasto não quis que eu morasse com eles. Por algum motivo maldito, eu me lembro de coisas de quando tinha dois anos pra frente e isso me faz muito mal. Me faz mal, porque me lembro que nessa época eu tinha que ir na casa da minha mãe no horário em que meu padrasto não estava, porque ele não queria minha presença lá. Eu ia uma vez por semana e minha avó me buscava antes dele chegar do trabalho. Só comecei a frequentar a casa da minha mãe por volta dos 5 anos de idade, ele tolerava minha presença, mas não conversava comigo. Minha mãe, pessoa super equilibrada, fez questão de me mostrar quando eu tinha uns 6 anos de idade uma foto minha ainda bebê em que eu estava sentado em uma cadeirinha e meus olhos na foto foram furados, segundo ela o meu padrasto teria feito isso. Porque diabos uma mãe faz isso com um filho? Fui ver meu pai biológico pela primeira vez aos 7 anos de idade. Depois eu o vi aos 9, quando eu comecei a me queixar com minha mãe e cheguei a chorar porque via o relacionamento do meu padrasto com meus irmãos e eu não tinha aquilo. Ele foi um ótimo pai para meus irmãos, mas comigo sempre houve distância. Quem pode me julgar por não conseguir digerir muito bem até hoje essas coisas? Eu era uma criança. Quando fiz 12 anos começaram a aparecer os primeiros sinais de depressão, mesmo que ainda tivesse contato com outras crianças e brincasse, eu comecei a questionar cada vez mais meu lugar no mundo e na minha família. Aos 13 pensei pela primeira vez em me matar e daí pra frente foi cada vez mais comum e presente essa ideia na minha vida. Quando fiz 16 anos a minha família se mudou de Paracatu e sofri muito com tudo isso. Continuei morando com minha avó, eu já trabalhava como office-boy e não percebi que estava numa depressão profunda, eu cheguei a pesar 64 quilos porque não me alimentava, na maioria das vezes eu fazia uma ou duas refeições por dia. Não sentia fome. Para melhorar tudo, a minha primeira namorada teve o irmão assassinado, o rapaz tinha 14 anos e provavelmente foi morto por um grupo de “amigos”. Ela sofreu muito e é claro que sofri com ela. Ela não aguentou a barra, mentiu pra mim dizendo que passaria um mês na casa de uma tia em Campinas, mas já foi pensando em ficar. Quando eu descobri a história, fiquei arrasado. E como toda pessoa frustrada eu resolvi descontar minha raiva nela. Em nenhum momento falei da dor dela por perder o irmão, mas falei que ela havia sido cruel comigo por ter mentido e que tinha me feito sofrer muito. Passados 2 anos comecei a namorar com a mãe do meu filho e logo no começo da relação ela engravidou, eu tinha 18 e ela tinha 16. Meu mundo virou de pernas pro ar, eu não tinha um bom emprego, tinha medo de ser um pai ruim como o meu foi. Namorei com ela por 2 anos, íamos nos casar, mas todos os dias ela me dava demonstrações de que não era o tipo de pessoa que eu queria na minha vida e não entraria em um relacionamento que seria ruim para as três pessoas que fariam parte dele. Continuei sendo pai e sendo amigo dela, mas coloquei fim na relação. Depois disso já namorei algumas vezes, fiquei com um bom número de pessoas. Já amei pessoas boas e pessoas ruins. Já flertei com a morte por causa de uma apendicite que meu tirou da faculdade por que precisei ficar três meses afastado, foi uma situação muito grave. Durante todos esses anos lidei com a depressão, em uns momentos ela foi mais intensa em outros mais branda. Agora vou falar sobre fantasmas de outras pessoas que carrego comigo e todos eles envolvem situações horríveis. Vou te falar o nome de pessoas que você não conhece e nunca vai conhecer, porque eu preciso me referir a elas como elas são. Só de duas pessoas vou ocultar o nome, porque são daqui de João Pinheiro e talvez você conheça. E existem umas situações da infância que também preciso mencionar. Porque minha memória é cruel e me faz lembrar de coisas que não deveria lembrar. Minha primeira experiência sexual (que mais tarde, estudando um pouco de psicologia, descobri que poderia classificar como brincadeiras sexuais, que são naturais na infância, mas que por um bom tempo me atormentaram) foi aos meus 5 anos de idade. Meu primeiro de 7 anos viu que minha avó tinha saído um pouco e me chamou para um quarto, me mostrou o seu pênis e me pediu para chupar, depois ele me chupou, pediu para eu sentar no pênis dele e depois se sentou sobre o meu. Não houve penetração, eu não entendi muito bem aquilo, mas minha avó flagrou a cena. Lembro da minha mãe me perguntando o que tinha acontecido, isso foi no mesmo dia a noite. Depois a irmã deste primo, num final de semana foi para a casa da minha avó, ele é um mês mais jovem que eu. Me chamou para um cantinho da casa, baixou a calcinha e pediu pra eu chupar ela e depois ela me chupou. Minha avó também flagrou a cena e novamente não entendi muito bem as coisas. Com uns 6 anos de idade, uma outra prima, que morava perto da minha casa, me levou para trás da casa, pediu pra eu ficar com o pinto duro, também não entendi o porque e ela baixou a roupa dela e começou a esfregar meu pênis na vagina dela. Isso aconteceu por muito tempo, sempre que ela ia lá. Depois de muito tempo minha avó também flagrou a cena e a situação parou. Essa prima tinha uns 8 anos e eu tinha 6. Por muito tempo não entendi as coisas que tinham acontecido, depois eu ficava feliz pelas experiências com as primas e em dúvida sobre minha sexualidade por causa da experiência com o primo. Só que com o tempo eu percebi que aquelas experiências pareciam muito maduras para aquelas crianças que tomaram as iniciativas e comecei a me questionar se elas tinham sido abusadas por adolescentes ou por adultos. Nunca toquei no assunto com nenhum deles e comecei a carregar esse fantasma. A única experiência espontânea foi com uma outra prima, que morava ao lado da casa da minha avó. Víamos as pessoas se beijando nas novelas e resolvemos que iríamos fazer a mesma coisa. Sempre que acontecia, eu tinha ereção e ela gostava de pegar no meu pênis. Também tinha em torno de 6 anos nessa época. Só que eu cresci e aquilo que eu podia suspeitar que aconteceu com meus primos, descobri depois de um tempo que era real e acontecia o tempo todo. Giselle foi minha terceira namorada. Eu tinha em torno de 21 anos quando comecei a namorar com ela. Ficamos juntos por um ano e meio. Ela me contou que 6 meses antes de me conhecer foi estuprada por um vizinho que era traficante. Ela não contou para ninguém. Aguentou tudo sozinha. Ela era 2 anos mais nova que eu. Quando eu tinha 22, comecei a ficar com uma amiga de 30 anos. A Cinthia me contou que durante sua infância foi abusada por um tio várias vezes. Quando ela cresceu, resolveu contar para suas 2 irmãs e descobriu que elas também tinham sido abusadas pelo mesmo tio. Depois conheci a Celina lá em BH. Eu tinha 25 quando comecei a ficar com ela e ela já tinha 37. Ela me contou que foi abusada por um tio durante sua infância. Aqui em João Pinheiro, namorei uma mulher de 39 anos. Ela me contou que quando tinha 13 anos foi dopada e violentada pelo marido da sua tia. A tia e a própria mãe, tentaram responsabilizar ela pelo ocorrido. E uma amiga aqui da cidade me contou que começou a ser abusada aos 5 anos de idade. O caso dela é o mais chocante. Ela disse que foi abusada por 2 cunhados e um tio. Esses abusos só cessaram quando ela fez 13 anos, conseguiu compreender a gravidade de tudo aqui e ameaçou cada um dos sujeitos. O pior de tudo é que ela ainda é obrigada a conviver com 1 dos cunhados. O que há de comum entre todos esses casos? Elas sofreram ameaças e as que tentaram contar pra alguém, foram sempre classificadas como responsáveis. Também conheço o caso do Diógeles, que foi abusado por uma babá. Na adolescência a história parecia maravilhosa, já que “homem tem que pegar todo mundo, não importa se a mulher tinha 27 anos e você 7”. Depois percebi que ele também tinha sido abusado. Passo muitas noites pensando em todos os casos, nenhum dos abusadores foi punido. 2 já morreram e os outros estão vivos por aí. O sentimento de inutilidade, de impotência diante dessas situações e saber que todos os dias acontecem dezenas de casos no país, tudo isso me deixa muito mal.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Capitalismo amoroso

Eu, homem marxista e comunista
Me apaixonei por uma burguesa
E como sempre fui otimista
Já temia minha tristeza
A bela capitalista
Se apossou do meu coração
Monopolizou meu tempo
Multiplicou o meu tesão
Mas uma maldita crise
Desestabilizou o relacionamento
Inflacionou minha angustia
E despediu meu sentimento
E hoje meu pobre amor
Proletário do meu coração
Está desempregado e foi trocado
Por um sentimento mais moderno: a solidão

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Minha vaidade

Tudo que quero é ser eterno
Seja no céu, ou seja, no inferno
Seja em marte, ou seja, na lua
Na memória do computador ou na sua
Tudo que quero é ser lembrado
Por ter sorrido ou por ter chorado
Ser lembrado por que sou normal
Por ter sido bom ou por ter sido mau
Ser lembrado por ser piedoso ou ser cruel
Por ter traído ou ter sido fiel
Eu só quero estar vivo na historia
Por meus fracassos ou glorias
Que o mundo não me esqueça
Que minha imagem não pereça
Vou ser lembrado por tudo que fiz sem razão
Por minhas loucuras e por minha paixão